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O amor acaba porque não era como imaginávamos?

Costuma-se dizer que o Amor numa relação acaba porque nos iludimos, porque chegamos à conclusão que as coisas não eram bem como imaginávamos. Bem, sim e não.

Se numa fase de enamoramento todas as particularidades do ser amado nos parecem perfeitamente encantadoras, com o tempo as características vão-se acentuando e o encantamento vai-se diluindo.

Ele deixa de ser visto como um homem impulsivo e arrebatado para passar a ser visto como violento e conflituoso e ela deixa de ser percecionada como risonha, brilhante, imaginativa para passar a ser percecionada como irrefletida, leviana, espalhafatosa, dada a dramas.

E quando se chega a este ponto, acaba por se censurar por cada por ser como de facto é e não como foi imaginado.

E esta censura leva à repulsa.

Tudo o que o outro faz irrita, está sempre errado. A voz torna-se irritante, na realidade nem pode falar que a reacção é agressiva e acusatória, o corpo torna-se indesejável, o odor enoja. A maneira como se veste, como anda como ri, tornam-se fonte de vergonha alheia. Tudo o que diz é entediante, as suas piadas são secas.

Tornamo-nos ausentes daquela relação. E porque já ali não queremos estar começamos a ignorar quem está ao nosso lado, deixamos de escutar, de acariciar, de beijar ou de prestar simplesmente atenção aos seus gostos. Tornamo-nos agressivos.

E isto vale para os dois lados da relação.

E eis o primeiro passo para o fim do Amor.

É o desejo que cria o desejável e o projecto que lhe põe fim.
Simone de Beauvoir

O fim do amor romântico

Nos últimos séculos as relações matrimoniais eram controladas pelas Instituições da altura nomeadamente a Igreja ou a própria Família, por interesses financeiros ou sociais… questões práticas e pragmáticas. Casava-se por interesse puro e duro.

Portanto quer houvesse zangas, insatisfações, o casamento era para manter… até que a morte os separe.

Ora nas últimas décadas o paradigma foi alterado, pela primeira vez casamos por afeto, por amor e não por decreto… fazendo aparecer o chamado amor romântico.

Começámos a acreditar que podemos gostar de uma pessoa, podemos sentirmo-nos bem só de estar na sua companhia.

Idealizamos o casamento para a vida baseado naquilo que de mais volátil temos… as emoções.

Acreditamos, e bem, que o casamento tem de ser acompanhado pelo amor

Mas isto paradoxalmente fragiliza a Instituição casamento.

Mas será que podemos fazer alguma coisa para evitar o fim?

Pouco e o que se pode fazer é difícil e nem todos estamos capacitados para isso… e tudo bem a maioria não está… mesmo.

Então o que se pode fazer?

  1. Perceber esta dinâmica que tudo passa e nada é eterno. Perceber que nos vamos desencantar por quem estivemos encantados.
  2. Olhar o outro. Vê-lo, percebê-lo.
  3. Auto-conhecimento… reforçado. Se eu vejo o outro o outro também me vê e vai-me espelhar falhas minhas que eu até então não tinha percebido… e pior… posso não querer perceber… e pior um pouco… posso não gostar. Afinal não sou tão bela ou interessante quanto pensava.

E agora diga-me lá… afinal como é que ainda há casamentos que resistem?

Conhece o Dilema do Porco Espinho?

Segundo Schopenhauer, o autor deste dilema, o porco-espinho durante o Inverno tem necessidade de encontrar calor para se aquecer, para tal, a tendência é procurar outros porcos-espinhos de modo a que o calor destes o possa aquecer. Contudo passado um tempo, os espinhos dos outros, atingem-no e incomodam ou mesmo magoam, fazendo com que se volte a afastar até que o frio se torne desconfortável, fazendo-o voltar a aproximar-se.

Nos humanos, este frio é a solidão. E para a combatermos aproximamo-nos dos outros humanos. Contudo quando os “espinhos” destes nos perfuram e nos causam dor (e os nossos a eles), o incómodo afasta-nos e ficamos isolados novamente. O frio reaparece e tentamos voltar ao convívio obtendo o mesmo resultado.

Aprendemos a encontrar uma distância segura que nos traga o calor que precisamos, mas que evite o sentirmo-nos atacados.

Mas afinal qual é a distância segura? Será que ainda conseguimos estabelecer relações que nos permitam suportar os espinhos dos outros? E quando estamos sós? Quem somos nós?

Ensinaram-nos na Escola que quando ficamos de castigo vamos para um canto sozinhos. Tremia-mos cada vez que ouvimos o ex-companheiro dizer vou-te deixar.

Contudo a solidão pode ser um ato criativo, que o diga Michelangelo quando pintou o teto da Capela Sistina.

Mas… sabe estar sozinha?

“Estou bastante acostumada a estar só, mesmo junto dos outros.” Clarice Lispector

O Outono

Para muitos o Outono é uma altura do ano de despedidas. O regresso ao trabalho, a Escola dos miúdos, os dias mais pequenos, a temperatura mais fria, tempos mais caseiros… um tempo de espera para o Natal ou para o Verão.

A maneira como vivenciamos o Outono, é um espelho de como vivenciamos a nossa própria vida… um tempo de espera para uma altura mais fugaz onde acreditamos que está a felicidade.

A felicidade não está lá, algures no tempo, a felicidade está aqui. Está na nossa vida do dia-a-dia. A nossa felicidade está no modo como encaramos cada minuto da nossa vida.

Há quanto tempo não aprecia uma noite de lua cheia? Há quanto tempo não se maravilha com as cores da Natureza à sua volta? Com o riso de uma criança? Com um cão que lhe pede festas? Com o/a desconhecido/a que lhe sorri ao acaso?

O Outono embarga em si a transição, a mudança, a renovação. Ensina a largar o velho, a abrir mão do que foi para dar espaço para o novo, para o que será. É o tempo de analisarmos a bagagem que trazemos para percebermos o que ainda nos é adequado do que já não tem significado. Tempo de perceber se estamos a carregar mais peso do que deveríamos na nossa mochila emocional, espiritual, física, intelectual e comportamental. Tempo de aceitar e desprender.

Comece por olhar para a sua mala de mão, precisa mesmo de tudo o que tem? Olhe para os armários de roupa, ainda lhe serve tudo? Precisa de tudo? Como se sentiria se pudesse dar a quem precisa aquilo que já não lhe serve a si?

E depois olhe para si. Que pensamentos e comportamentos a estão a impedir de progredir?

“Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza”. – Carlos Drummond de Andrade

Ser assertivo é entender o outro

Na sua generalidade toda a gente se acha assertiva, mas será que é? Ou será que não sofre de sincericídio?

Tenho o direito de dizer o quero, independentemente do outro estar preparado para ouvir? Tenho o direito de dizer o que quero independentemente da maneira como o outro se vai sentir?

Assertividade passa por perceber quem está à nossa frente, passa por ser empático independentemente de concordarmos com o que nos está a ser dito. Assertividade é saber respeitar os sentimentos do outro e esclarecer de forma clara os nossos.

É saber que eu consigo ter a minha opinião, respeitar a minha liberdade, continuando a ter capacidade para ouvir e para perceber o meu interlocutor.

É expressar o que sinto respeitando, mas não deixando espaços cinzentos. O que digo e o que quero dizer têm de estar em consonância e têm de ser entendido. O meu companheiro de comunicação deve entender claramente o que estou a transmitir.

Assertividade é o equilíbrio entre a passividade e a agressividade. É o equilíbrio entre os sentimentos e comportamentos que engulo e os que exponho sem olhar a meios.

Assertividade não pode ser extemporânea, tem de ser atempada. Na hora e no local certos. De outro modo corro o risco de me entupir com sentimentos que quando explodem sairão de modo caótico, não dando espaço para entendimentos.

Quando digo o que penso e sinto, esclareço que não estou aberto a chantagens emocionais, que não tenho que esconder o que sinto e que não tenho de ser assim ou assado só para agradar A, B ou C.

Dificuldades na expressão de opiniões e sentimentos? Quem não se expressa fica doente?

Para aqueles que tiveram uma família onde os sentimentos eram valorizados e expressos de uma maneira aberta, esta questão é mais facilmente resolvida.

Infelizmente para a maioria da população tal não aconteceu, o que implica um desbravar de terreno durante toda a vida adulta.

Expressar o que sentimos não é fácil, porque nos faz sentir expostos, vulneráveis, nus perante os outros… mas e quando não o fazemos? O que nos pode acontecer quando arriscamos?

Numa comunicação mais aberta, não há lugar a mal entendidos, dizemos o que sentimos e expressamos quem somos. E então?

Somos o que somos.

Aceitemo-nos.

Ou viveremos naquilo que os ingleses chamam de comunicação double bind, na qual a informação que queremos que o outro entenda e a que estamos a transmitir, não coincidem o que obviamente vai resultar numa resposta errónea e no surgimento de um conflito.

Tal acontece por exemplo quando alguém nos magoa e desvalorizamos o que sentimos, não o transmitindo, o que obviamente irá fazer com que amontoemos raiva e guardemos rancor, que um dia sairá em modo de zanga – “Quando não comunico adequadamente o que me feriu, nego ao outro oportunidade de reparação. Relacionamentos são perdidos pela falta de comunicação.” – Autor desconhecido

Tal coloca-nos numa situação que a médio, longo prazo nos será cada vez mais penosa.

A zanga toma conta de nós e pior que a zanga… a necessidade de termos razão e a incapacidade de nos colocarmos no lugar do outro.

Outro esse que passa a ser um inimigo, com quem temos de retaliar a todo o custo, independentemente dessa pessoa estar preparada para ouvir ou lidar com a nossa “sinceridade”.

Perdemos a perspectiva de que podemos estar zangados e com raiva e que é possível transmitir tal de modo assertivo. Basta não entrar em acusações ou em sarcasmos que serão sentidos como agressivos.

Isto nas mulheres é ainda mais penoso, uma vez que serão logo rotuladas de histéricas, quando na realidade só estão desesperadas para serem ouvidas.

E quando os criticados somos nós? Quando somos nós o alvo da zanga ou mesmo da crítica do outro?

Em primeiro lugar é importante perceber que a crítica não é dirigida a si como pessoa mas a um acontecimento ou comportamento que tenha tido.

A crítica não a diminui em nada enquanto pessoa.

Somos constituídos por várias camadas e somos muito mais que um erro.

E todos nós erramos. Todos.

E se não me comunico de modo assertivo, tenho maior dificuldade em lidar com as dificuldades do dia-a-dia, aumentando a frequência e a intensidade do stress, aumentando o risco de ter problemas de saúde.

Os quais ironicamente poderei não conseguir transmitir ao médico que me acompanha, colocando a minha vida de facto em risco.

A partir do momento em que consiga exprimir os seus sentimentos, positivos ou negativos terá um comportamento e uma comunicação assertiva reforçando os níveis de conforto que vai sentindo em relação a si próprio, passando-se a ver como uma pessoa que sente e que tem direito a expressá-lo.

“O corpo diz o que as palavras não podem dizer.” – Marta Graham

3ª Semana de Setembro

Uma pessoa assertiva resolve os seus problemas com maior facilidade. Não guarda ressentimento, tem uma rede de apoio social maior, maior sensação de auto-eficácia, controlo sobre a vida e maior capacidade de a enfrentar. Tornando-se menos stressada, e com uma maior e melhor qualidade de vida e de saúde. Por isso esta semana as publicações do Virar de Página serão todas dedicada à importância da Comunicação Assertiva.

“Comunicação é a arte de ser entendido.” – Peter Ustinov

Setembro Amarelo

É possível que já se tenha encontrado com estas palavras e se tenha questionado sobre o seu significado.

O Setembro Amarelo é uma campanha de consciencialização sobre a prevenção do suicídio que teve a sua origem no Brasil em 2015 com a proposta de associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de Setembro).

A ideia é pintar, iluminar e estampar o amarelo nas mais diversas resoluções, garantindo maior visibilidade à causa.

Criar consciência para a prevenção do suicídio.

Ao fazer uma pesquisa sobre o assunto vi muitas palavras técnicas mas que pouco reflectem o sentir de quem se vê perante esta situação, quer seja de quem a experiencia na primeira pessoa, como de quem a rodeia.

Ouve-se muitas opiniões sobre o assunto e faz-se julgamentos de valor do sofrimento de cada um. Dá para acreditar? Julgar a dor de uma pessoa? Quantas vezes se ouve que quem se suicida é um cobarde ou pelo contrário uma pessoa de muita coragem?

Não é uma coisa nem outra… é alguém que vivencia um dia, uma hora, um minuto atrás do outro um sofrimento atroz, que está num beco frio e vive enrolado nos seus próprios pensamentos negros, obsessivos e em espiral e que merece toda a nossa empatia.

E para mim o Setembro Amarelo é isso mesmo, empatia e respeito por quem sofre. E perceber que por vezes essa mesma pessoa não tem forças para sair da cama muito menos para pedir ajuda.

É estar atento aos sinais de que um sorriso pode estar a esconder um esforço abismal para que a família ou amigos não sintam que é um fardo… não sintam aquilo que a própria pessoa se sente, uma nulidade, um pó, um buraco negro.

Estejam atentos às pessoas que vos rodeiam, façam eles parte daquilo que chamamos de grupos de risco (pessoas socialmente isoladas, idosos, adolescentes, com perturbações de humor; esquizofreniforme ou associadas a bebidas alcoólicas e outras substâncias psicoativas) ou não.

Segundo o site da DGS baseando-se nos dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), suicidam-se diariamente em todo o mundo cerca de 3000 pessoas – uma a cada 40 segundos – e, por cada pessoa que se suicida, 20 ou mais cometem tentativas de suicídio. O número anual de suicídios ronda actualmente o milhão, ou seja, cerca de metade de todas as mortes violentas registadas no mundo, estimando-se que, em 2020, esse número atinja 1,5 milhões.

Em Portugal, a taxa de suicídios por 100.000 habitantes, em 2010, foi de 10,3, taxa superior à de quaisquer outras mortes violentas, nomeadamente por acidentes de viação e acidentes de trabalho

Perante a frieza dos números, estamos mesmo a falar de um pequeno problema?

E será que não cabe a cada um de nós fazer a diferença?

Somos assim tão indiferentes ao sofrimento do outro

Todos podem ser divulgadores desta causa vital.

Pode organizar acções na rua, caminhadas, passeios de bicicleta, roupas amarelas ou simplesmente o uso do laço no peito já despertam atenção e contribuem para a consciencialização.

Mas principalmente quer seja em Setembro ou noutra qualquer altura do ano…

Se conhecer alguém que tenha passado por esta situação e tenha sobrevivido, por favor… não julgue.

Em baixo deixo alguns links e contactos que me parecem importantes:

https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/plano-nacional-de-prevencao-do-suicido-20132017-pdf.aspx

SOS Voz Amiga

Lisboa

Das 16h às 24h

213 544 545 – 912 802 669 – 963 524 660

SNS 24

808 24 24 24

“As pessoas mais tristes estão
sempre a tentar fazer com que as outras se sintam mais
felizes. Porque elas sabem como é se sentirem
absolutamente sem valor e não querem que ninguém
sinta o mesmo.”
Robin Williams

Dia Nacional do Psicólogo

Neste dia 04 de Setembro comemora-se o Dia Nacional do Psicólogo.

Todos os anos, todos os meses, todos os dias são momentos em que a mudança ocorre. Porque a vida é mesmo assim, feita de imprevistos, de percalços, de aprendizagens.

Contudo é inegável que 2020 elevou esta realidade ao seu expoente máximo e tivemos de ter em alerta e em pleno a nossa capacidade adaptativa e onde a nossa saúde mental foi posta à prova. E quando digo nossa é mesmo a de todos independentemente da profissão que temos.

No caso dos psicólogos fomos postos à prova de uma maneira nunca vista. Não só tivemos de lidar com as nossas questões pessoais, somos pessoas acima de tudo, bem como ser um baluarte da saúde mental para os outros que se viam a braços com as suas próprias fragilidades.

Foram e são tempos estranhos, nos quais nos apercebemos que nada controlamos, com excepção dos nossos pensamentos e dos nossos comportamentos… e isto foi uma novidade para muitos.

Neste dia tão importante para os psicólogos venho partilhar a minha maior aprendizagem de 2020… a importância do auto cuidado para todos e isto inclui os psicólogos.

Reserve tempo para si e aproveite as coisas que lhe parecem insignificantes como um por-de-sol ou uma noite de lua cheia. Desfrute.

Se perceber que algo está descontrolado em si, peça ajuda

Perceba que antes da doença mental surgir há que cuidar da saúde mental.

Feliz dia Nacional do Psicólogo.

Cuide-se como se você fosse de ouro, ponha-se você mesmo de vez em quando numa redoma e poupe-se.”
Clarice Lispector

Férias… ou a importância de pararmos

Vou de férias, sem grandes planos, simplesmente parar, dormir, comer e tratar de mim. Para depois reorganizar-me e abraçar os novos tempos que se aproximam.

Andamos tão concentrados na nossa vida do dia a dia, na nossa vida na sua generalidade que nos tornamos incapazes de parar e olhar ao nosso redor.

Temos uma necessidade de fazer muito e mostrarmos desse modo a nossa importância ao mundo. Como somos importantes como mulheres, mães, trabalhadoras… e esquecemos que ninguém, e por muito que custe nem nós… é insubstituível.

“Quanto mais faço, mais útil sou, mais reparam em mim, mais importância me dão … maior é o meu valor”

Mas é mesmo? O valor que eu tenho para os outros deve ser maior quanto mais eu dou de mim? Quanto mais eu me esgoto na minha própria existência?

E se eu parar?

E se eu me der ao luxo de parar?

Que me acontece?

Fico sozinha comigo mesma.

E isso é bom?

É assustador?

Faz-me pensar quem sou eu afinal sem as luzes e os barulhos dos miúdos, da cozinha, do trabalho?

E quero isso?

Talvez sim, talvez não.

Seja o que for que dai vier… pela sua saúde pare.

Simplesmente pare.

Deixe-se estar.

Respire.

Olhe.

Aproveite a aragem do vento.

Mas pare.

Lembre-se da velha máxima dos taxistas… tudo é passageiro.

Tu, o teu ser, tanto quanto qualquer pessoa em todo o universo, merece o teu amor e a tua afeição.
Buda